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Uma visão alternativa sobre a noção de ciência europeia

18 set/2012

 

O que significa exatamente ciência europeia? A pergunta do professor Kostas Gravolu da Universidade de Atenas abriu o Encontro às Quintas, ocorrido excepcionalmente no dia 11 de setembro, uma segunda-feira. Kostas Gravolu questionou a referência utilizada para definir a noção de centro e periferia na ciência europeia que, mais que uma convenção territorial ou geográfica, é um espaço de diversidade cultural, onde as ciências têm se desenvolvido de diferentes e variadas formas.

 

O palestrante delineou o polígono formado por Cracóvia, Norte da Itália, Paris, Londres, parte da Escócia e Paises Baixos ao qual denominou berço da ciência, a partir do século 17. “Até mesmo em sua origem, o início das ideias e práticas científicas foi limitado, como se aquilo que se encontrasse fora desse desenho fosse periférico, apenas um reflexo do que acontecia no centro”, ressaltou. Segundo ele, além de deixar de fora regiões importantes como a Península Ibérica, Império Otomano, Países Escandinavos e Rússia, tal impressão “trouxe sombras sobre a pluralidade cultural da Europa”, completou.

 

Kostas destacou a criação do grupo STEP (Science and Technology at the European Periphery), que surgiu para traçar o histórico da ciência européia e questionar seu modelo difusionista, que contrapõe um centro forte, superior, formador de hábitos e opiniões, a uma periferia frágil, que apenas reflete o centro. Para o professor, é preciso rearticular a noção de ciência na Europa e mudar a ênfase de uma visão eurocêntrica homogeneizante, fora de sintonia com as tendências atuais na história da ciência.

 

Por fim, Kostas defendeu que o passo mais significativo no processo de traçar a história dessa ciência é analisar a periferia como participante ativa no processo de apropriação que estava sendo trazido pelo centro e se perguntar qual seria a atitude ou a utilização que ela faria quando confrontada com as novas ideias e práticas. Para corroborar a afirmação, o palestrante citou o seguinte exemplo: muitos historiadores de diferentes países da periferia europeia deram relatos detalhados sobre a primeira vez que os estudiosos locais foram confrontados com o sistema newtoniano. Dependendo do grau de compreensão de cada um, as ideias do centro foram expressas em uma versão diluída de acordo com o grau de compreensão de cada um teve da obra original. Menos do que pensar a diferença como desvio ou incompletude, o mais produtivo, segundo o autor, é analisar o modo pelo qual a apropriação foi feita, segundo as necessidades, cultura e formação regionais.