Diante de olhares de curiosidade, surpresa e fascínio, um espetáculo inédito transformou o Castelo da Fiocruz em uma grande tela na inauguração da nova iluminação monumental do Pavilhão Mourisco, no último dia 27, no campus de Manguinhos, no Rio de Janeiro.
Momentos que marcaram a história da Fiocruz foram projetados na fachada do Castelo por meio do videomapping ou projeção mapeada, técnica visual que usa a projeção de imagens, animações, grafismos e outros recursos gráficos e sonoros para dialogar com a arquitetura e transformar em tela superfícies como uma fachada.
O espetáculo fez parte da Agenda Cultural dos 125 anos da Fiocruz, que teve ainda uma homenagem a Martinho da Vila, com a outorga do título de Doutor Honoris Causa, show da cantora Mart’nália e a inauguração do novo projeto luminotécnico do Pavilhão Mourisco.
Tão logo a cantora carioca se despedia do palco e a noite começava a cair, a fachada frontal do Castelo apareceu salpicada de bolinhas, balões e grafismos coloridos e variados, dando uma pequena amostra do que estava por vir.
Uma voz familiar, a da atriz Dira Paes, convidou o público presente a embarcar em uma jornada especial que relembrou momentos históricos marcantes da Fiocruz, desde a construção do seu maior símbolo, o Castelo, até os desafios atuais.
Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, projetados nas duas torres em escala monumental, com quase 50 metros de altura, pareciam trocar olhares de aprovação diante do legado que construíram e que projetaram Manguinhos para o Brasil e o mundo.
Além dos recursos convencionais de animação, foram utilizadas ferramentas de inteligência artificial para dar movimento a personagens e cenas. As fotografias históricas puderam ser projetadas em grande escala graças à preservação dos negativos de vidro que integram o Arquivo Histórico da Fiocruz, permitindo a reprodução dessas imagens em alta resolução.
“São novas formas de olhar para este patrimônio. O uso de linguagens artísticas permite que pensemos no Castelo de forma menos sisuda e observemos esse monumento, que já é muito conhecido, a partir de novas perspectivas. A utilização de tecnologias como essa em ações de valorização do patrimônio nos possibilita ampliar o diálogo com a sociedade sobre ciência e saúde de forma leve”, avalia Diego Vaz Bevilaqua, vice-diretor de Divulgação Científica e Patrimônio Cultural da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). “Isso faz pensar no Castelo como algo vivo, em diálogo com seu território, com aquele público que está em volta, com a cultura e com as artes”.
O espetáculo foi idealizado pela Casa de Oswaldo Cruz e Sociedade de Promoção Sociocultural da Fiocruz, e produzido pela SuperUber, empresa carioca especializada em experiências multimídias que misturam arte, tecnologia e arquitetura.
A ação de videomapping integra a programação de lançamento da nova iluminação monumental do Castelo e do núcleo histórico de Manguinhos, uma iniciativa que reforça o compromisso da instituição com a preservação de seu patrimônio e se alinha à candidatura da Fiocruz a Patrimônio Mundial pela Unesco. Assinado pelo lighting designer Milton Giglio, o projeto luminotécnico substitui a primeira iluminação monumental do Castelo, de 1995, e a atualiza com equipamentos mais modernos, tecnologia LED e um sistema inovador de cores.
“É muito bom poder valorizar esse patrimônio em um território que, infelizmente, tem muitos desafios e que poucas vezes é percebido em todas as suas riquezas. E essa riqueza pertence a esse território, à Maré, a Manguinhos. É uma alegria enorme ver um projeto sonhado e gestado por uma década se tornar uma realidade com o apoio de parceiros que acreditaram, junto com a gente, quando ainda era uma ideia embrionária”, comemorou Luis Fernando Donadio, Diretor Institucional da Sociedade de Promoção Sociocultural da Fiocruz e Gerente Geral do Escritório de Captação de Recursos.
O trabalho de pesquisa e criação do espetáculo de videomapping durou cerca de três meses e mobilizou uma equipe formada por 14 profissionais de diferentes áreas. Neste período, foram feitas reuniões semanais entre os profissionais da Fiocruz e da SuperUber para definir um roteiro, pesquisar as imagens e ajustar o que poderia ou não dar certo neste formato.
Diretora criativa e uma das fundadoras da SuperUber, a arquiteta Liana Brazil já conhecia bem o Castelo. Formada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU/UFRJ), foi estagiária no Departamento de Patrimônio Histórico da COC. “Ia para a Fiocruz depois da faculdade e ficava impressionada com o tamanho do campus e fascinada com o Castelo. Fazia desenhos dele no CAD, então eu já conhecia os detalhes com esse olhar de arquiteta”, lembra.
Mesmo diante de um velho conhecido, “encaixar” as imagens em uma arquitetura tão deslumbrante, quanto desafiadora não foi tarefa simples. Fotografias, vídeos, desenhos, imagens em 3D e animações passaram por várias fases de ajustes. Uma maquete capaz de reproduzir fielmente a volumetria da fachada frontal do Castelo foi utilizada para testar o que funcionaria ou não.
Tudo é feito com ajuda de softwares específicos para esse fim. Os ajustes envolvem ainda sincronizar a projeção com a narração e a trilha sonora, criada para o projeto. Um trabalho feito por muitas mãos.
“O animador trabalha em cima de uma coisa que chamamos mapa de pixels, que é o cálculo da soma dos projetores para saber qual é a resolução que vai ter na fachada. São vários projetores, alguns com sobreposição com os outros, ao fazer o mapeamento, ele alinha pixels dos projetores com a volumetria da fachada”, explica Liana.
Em frente ao Castelo, três grandes torres foram posicionadas em pontos estratégicos. Para alcançar uma boa resolução, oito projetores lançaram na direção da fachada 400 mil lúmens, uma luminosidade equivalente a quatro torres de estádio de futebol iluminando um mesmo ponto.
Foram feitas duas noites de testes, durante a noite e madrugada. Alguns ajustes mais finos foram feitos ao vivo, durante a projeção, pelo computador. No total, 22 pessoas participaram da produção do videomapping.
Além de remeter aos tempos em que era estagiária, a produção para a Fiocruz também fez com que Liana se reconectasse com a história do seu avô, o médico sanitarista Vital Brazil, contemporâneo de Oswaldo Cruz e fundador do instituto que leva o seu nome, em Niterói, e do Butantan, em São Paulo.
“Foi emocionante. Oswaldo Cruz ajudou muito meu avô, ele foi pra Santos e pegou a peste bubônica. Não o conheci, sou a neta mais nova. Mas lembro do meu pai falando sobre isso”, conta. “Adorei a missão desse projeto. Valorizar o coletivo, a cidadania, a educação, o trabalho, a saúde. Em termos de mensagem tenho um orgulho enorme de ter participado”.
A nova iluminação monumental é uma realização da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e do Ministério da Cultura, Governo Federal, com gestão cultural da Sociedade de Promoção Sociocultural da Fiocruz (SOCULTFio). A iniciativa conta com patrocínio master da Shell, além do patrocínio do Itaú Unibanco, MRS e EDF, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. .